Alguns professores afirmam que a aprovação em vestibulares é feita de detalhes que fazem a diferença entre o sucesso e o fracasso. Um desses casos é o do verbo ver, inofensivo na aparência, malicioso em algumas formas. É comum ouvirmos pessoas no dia a dia (até mesmo pessoas com boa formação), dizerem frases como
Quando eu ver você amanhã no supermercado, vou contar a verdade. (Errado. É Quando eu vir você amanhã…)
Se nós nos vêssemos mais vezes, seríamos amigos. (Errado. É Se nós nos víssemos mais vezes…)
Certo professor deu esses dois exemplos em aula e, a seguir, comentou que as formas do verbo “ver”, no pretérito imperfeito e no futuro do subjuntivo, são derivadas do pretérito perfeito do indicativo (vi, viste, viu, vimos, vistes, viram) e por isso têm -i- em lugar de -e-. Percebendo que alguns alunos duvidavam, exemplificou mais firmemente:
Se eu visse o filme
Se tu visses o filme
Se ele visse o filme
Se nós víssemos o filme
Se vós vísseis o filme
Se eles vissem o filme
Quando eu vir o professor
Quando tu vires o professor
Quando ele vir o professor
Quando nós virmos o professor
Quando vós virdes o professor
Quando eles virem o professor
Alguns alunos reclamaram, dizendo que o professor estava enganado e essa conjugação devia ser a do verbo “vir”. O mestre sorriu e pediu ao melhor aluno da classe para conjugar o verbo “vir” nos mesmos tempos e modo, usando os artifícios de “se” e “quando”. O aluno, orgulhoso, declamou, olhando irônico para os colegas reclamões:
Se eu viesse à aula
Se tu viesses à aula
Se ele viesse à aula
Se nós viéssemos à aula
Se vós viésseis à aula
Se eles viessem à aula
Quando eu vier ao parque
Quando tu vieres ao parque
Quando ele vier ao parque
Quando nós viermos ao parque
Quando vós vierdes ao parque
Quando eles vierem ao parque
Um estudante ainda protestou, imaginando que fazia um deboche: Mas então não aparece “ver” na conjugação do verbo “ver”? Aparece, sim, disse o professor, no infinitivo pessoal: ver, veres, ver, vermos, verdes, verem.
O professor, então, terminou com exemplos brincalhões para fixar o aprendizado: Prestem atenção! Se eu vir um de vocês colando na prova, dou zero na hora. Não façam isso nem se me virem distraído, certo?
Apesar de todas as lições como essas e outras que os professores dão nos ensinos fundamental e médio, muita gente sai da escola para ignorar solenemente a forma gramaticalmente adequada do verbo ver. E daí? Aí é que está a armadilha. Esse esquecimento pode ter consequências graves, não apenas em termos de redação, mas de leitura. Quem está acostumado a errar, falando Se eu ver você amanhã…, poderá entender errado quando alguém usar a forma adequada. Na conversa corriqueira ainda dá para perguntar, para explicar-se. Numa prova, porém, o engano fica registrado e não muda mais. Entender “vir” por “ver” num enunciado de questão pode conduzir a um entendimento errado da pergunta e a uma resposta também errada. Escrever errado numa redação pode implicar um desconto na nota final. Sim, um descontinho, um pequeno nada, que, como alertam sempre os estrategistas, pode significar a diferença entre a vitória e a derrota.
Você quer um conselho? Passe a usar, desde hoje, tanto na comunicação oral, corriqueira, quanto em seus escritos, as formas corretas do pretérito imperfeito e futuro do subjuntivo do verbo “ver”. E não esqueça que os verbos derivados de “ver” mantêm a mesma conjugação no pretérito imperfeito e no futuro do subjuntivo: prever, antever, entrever e rever: Se ele previr o dia do terremoto, será considerado um adivinho. Se papai e mamãe antevissem o perigo, não me deixariam ir. Quando entrevíssemos no meio da população algum movimento suspeito, agiríamos. Se nós nos revirmos na festa, não sei se resistirei.
Captou a mensagem? Não estaria na hora de dar uma verificadinha na conjugação de outros verbos maliciosos? Você estará, com isso, se armando de pequenos nadas que podem significar o seu tudo mais adiante.
Afinal, toda a nossa vida também é feita de pequenos nadas.